No Logo – Naomi Klein – Relógio D’Água
Poucos autores do activismo, à excepção talvez de Noam Chomsky, se mostram tão completos como a jornalista canadiana Naomi Klein. O seu livro de 2000, No Logo (Relógio D’Água) traça um retrato minucioso de como o grande capital está a tomar conta do espaço público e a restringir a Liberdade de Expressão dos cidadãos. Com efeito, se antes nos podíamos manifestar num mercado público, hoje, esse direito constitucional não nos é permitido dentro de um centro comercial, ou às suas portas. Tente, para comprová-lo, protestar frente a um hipermercado contra quaisquer políticas laborais menos correctas seguidas por este, e cedo se verá rodeado de seguranças, e até polícias.
Klein analisa ainda a forma como é criada à nossa volta a ilusão de escolha. Isto é, o processo através do qual uma corporação ou sinergia cria marcas que muito embora aparentem ser concorrentes entre si pertencem aos mesmos donos. Ficamos a perceber também como uma t-shirt Nike, ou GAP, por ex., é fabricada na Indonésia ou nas Filipinas por 0,5 cêntimos e vendida no ocidente por dezenas e mesmo centenas de euros. Uma trabalhadora destas fábricas não recebe o suficiente para provir à sua subsistência, embora trabalhe longas horas extraordinárias sem quaisquer regalias sociais. Podemos dizer que isto se passa noutro mundo, que aqui, no ocidente, estamos a salvo. Mas como, se há fábricas a abandonarem o nosso país em busca desta mão-de-obra a preços de saldo, deixando atrás de si um lastro de desemprego e precariedade?
Escolas, universidades, consultórios médicos, hospitais, nada está para além da interferência do grande capital. Nas universidades, investigadores científicos são pagos para fazerem estudos que publicitem a “eficácia” de medicamentos que na verdade provocam doenças. Os que se opõe são trucidados por exércitos de advogados comerciais. Nas escolas do ensino básico, na América do Norte, as cantinas são patrocinadas pela McDonalds e outras empresas de fast-food, e os seus placards publicitários forram as paredes dos refeitórios, inoculando no aluno uma consciência de marca desde praticamente o berço. Não satisfeitos com tudo isto, os missionários neo-liberais conseguiram introduzir nas salas de aula uma rede de televisão, supostamente com fins educativos, que passa anúncios publicitários de 5 em 5 minutos.
Qualquer semelhança com Admirável Mundo Novo, de Huxley, ou 1984, de Orwell, é pura coincidência. Será? Qual é o futuro do espaço público, da Liberdade de Expressão e dos outros direitos que custaram ao mundo séculos de lutas e de sangue derramado a conquistar? Klein aponta o problema, disseca-o, mas não se fica por aí. Fala-nos também daquilo que poderemos fazer para o combater. Viajando por dezenas de países do mundo e falando com inúmeras pessoas, ela busca também o exemplo positivo, as expressões criativas dos seres humanos que se cansaram do velho sistema e, não esperando por qualquer governo ou messias, se empenharam a reformá-lo.
Luís Soares
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