(...) "Tentar convencer alguém não tem mal nenhum, excepto em Portugal. Aqui, ser convencido é ser vencido. (...) Os Portugueses, quando se deixam convercer dizem: 'Está bem leva lá a taça!' indicando assim que perderam. Ao ver que alguém procura persuadi-los de qualquer coisa, pensam logo: 'Olá... este anda a ver se me dá a volta... mas eu já o lixo.' E dizem: 'Desculpe lá, mas a mim ninguém me tira esta ideia da cabeça.' (...)
Como se pode ter razão, se cada um de nós, individualmente e através do tempo que é o nosso, está cansado de ter razão? Se só em Portugal é possível ouvir coisas como 'Você tem toda a razão mas eu não posso concordar consigo'? Se só em Portugal se 'refutam' argumentos com o peso dialéctivo do 'Olhe que não...' ou do 'isso não é bem assim'? Se só em Portugal se diz de quem quer expor as suas opiniões que quer impô-las? Como será possível ultrapassar a situação em que todos sentem que dar razão a alguém é ficar-se sem ela? (Não há provocação mais violenta em Portugal do que dizer perante alguém 'Então estás a dar-me razão!').
A única maneira de ter uma razão que seja dada por outrem e não simplesmente consentida ('Pronto, fica lá na tua que eu cá fico na minha') é bastante darástica. É morrendo. Os mortos, em Portugal, têm sempre razão. É por isso que a razão só se dá no pretérito, a alguém que está manifestamente ausente: 'Razão tinha o outro, coitado...'.
por Miguel Esteves Cardoso in A Causa das Coisas, Assírio e Alvim
2 comentários:
" ...É por isso que a razão só se dá no pretérito, a alguém que está manifestamente ausente..." - Miguel Esteves Cardoso
Interessante...Uma ideia de MEC é sempre para pensar e analisar na vertente da ilusão...
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