segunda-feira, janeiro 28, 2008

Escrita Automática

orientada por Vera Mantero
Inspiração: Surrealismo - situacionistas (anos 50)

14 de Janeiro de 2008
(sem tema)
Escrever, escrever, escrever livremente sem censura é interessante, é ser realmente um orgão de emissão, que bom que é, por isso é bom escrever quando mais ninguém me quer ouvir. É isso que é uma solução muito boa, quente, verdadeira, mas o melhor é saber que nem Deus nem o meu pai, nem os registos do tempo vão ver aquilo que escrevo, porqu o que escrevo não é só o que escrevo mas também o que vivo e isso só em mim é discernível.

É grande, é bom, tem espaço, é vida, é energético, tem magia, ser natural. Estou a riar, são rimas fáceis que trazem bem-estar. Os meus pés, a minha cicatriz tocada, vivida, que conta uma história que a partir do momento em que começar poderá não ter fim por poder vir sempre a ser desenterrada. Incrível pensamento a parir do momento em que algo existe é para sempre. Pelo menos a sua história, o seu sentido, a sua iniciativa, o seu movimento.

Como pensar isto no corpo? Que incrível estranheza o corpo pensa mas sem palavras, sem verbos, e nós, nós quem? Não queremos ouvi-lo muitas vezes. Incrível de novo. Perdidos estamos de nós mesmos. Que tristeza não estarmos unidos a nós com as diferenças de cada parte. Não em mito de união mas em vida em inter-relação em partilha das diferenças. Quero isso: psicossomática, sistémica, intersubjectiva sou! E dizer isso é estranho porque se sou essas palavras querem apenas dizer eu: eu-dedo, eu-cara, eu-voz, eu-arroto, (...), eu-rosto, eu-corpo, eu-corpo-todo. E por vezes divido-me sem esquizofrenia, com muita alegria e emoção, e amor. Isso é ser eu. Egocentrismo o que é afinal?

Não sei, não encontro sentido afinal pois que se estivermos deveras vivos esse vocábulo não faz sentido. Como se é egocêntrico se se compreende a dor, de cada parte, do corpo e do corpo do outro, do corpo do mundo? Como se é egocêntrico se te sentes satisfeito, com as necessidades consumidas, vividas, mencionadas e amadas? Comc se é egocêntrico afinal? Não sendo corporal? Não sendo artista? Não sendo visível? Não sendo audível? Ser egoísta é estar morto e querer sorver a vida do que está ao lado? É não criar espaço entre os dedos? É não sentir/criar/viver o espaço em nós? Talvez, talvez não. Não sei. Mas estou farta.

15 de Janeiro de 2008
(sem tema)
Tudo o que sai está no corpo porque a vida inconsciente é onde tudo está, tudo o que existe e vive e sente. Já viveu, já sentiu, já existiu. Não há nada absolutamente bom ou mau. Por isso sentir-me mais o interior ou o exterior não é bom nem mau. Mas enquanto encontrar forma de escolher devo experimentar o que me faz sentir mais livre e para tal, claro está, a liberdade dos outros também conta. Penso que encontrar forma de satisfazermos as nossas necessidades encontrando outros que queiram partilhar dessa experiência ajuda pois não há culpa nesse cenário, não há hipocrisia, só clareza, transparência, nudez mesmo.

Rir, chorar, cantar, gritar, escrever formas de expressão das impressões que vivemos no corpo. Mas porque é importante que os outros vejam, se apercebam do que vivemos no nosso íntimo? Para podermos ser satisfeitos nesses desejos? E porque é isso importante? Para o equilíbrio da Natureza? Todos satisfeitos, todos felizes! Encontro algo disso na vida de casal com projectos, com criatividade, com novidade, com o eterno gosto de conhecer o outro. O outro que nos serve imenso de almofada com a sua matéria de protecção, ténue separação e aconchego.

Gosto de almofadas - lembram a elasticidade de uma pele esse orgão enorme que temos todos. Essa membrana de contacto entre tu e o outro - essa nuvem de electrões visível! Quero viver com essa sensação de que interior e exterior namoram e que o encontro é essa membrana chamada pele. Quero encontrar em mim e nos outros a satisfação, a felicidade, o contentamento, e o renascimento perpétuo.

Encontro razões válidas para tentar ser como os animais que seguindo os seus instintos mais tempo têm de calma do que de turbulência. Leões na paisagem ao sol a descontrair é o que todos os dias aparentam mas os mesmos são os reis da selva.

Encontro paisagens belas que nos incitam à descoberta e às paixões. O que pode haver de errado no encontrar do sol, de água, de vida interior, de vida exterior, de ar, e de tudo o que existe? Do fogo que queima e que tão belo, como uma pequena estrela residente, pode existir dentro de um corpo. Alma? Fogo? Identidade? Ou simplesmente: Vida? Desenvolver-se. Adaptar-se. Modificar-se. Reproduzir-se. Sentir-se. Conhecer-se.

Mas o que é isso de nos conhecermos?

17 de Janeiro de 2008
(questões fundamentais de existência
estrutura das coisas
recorrências
pilares de estar aqui)
Os meus temas recorrentes de existência são: o egoísmo, o eu, o individualismo, a originalidade, a responsabilidade, a genuinidade, a verdade, a constância, estabilidade, a ter um lugar e ser valorizada para poder valorizar. O ser bem tratada e ser considerada bela. Nestes últimos tempos estou sempre a pensar na satisfação como dizia ontem uma amiga: não fazer fretes, diria eu, emocionais.

Penso muito em (...) sentir prazer e explosões de felicidade e com essa experiência minha ter mais para os outros e sentir-me mais próxima dos demais sem ter inveja deles. Sinto que se conseguir isso serei uma egoísta saudável que provavelmente não ouvirá muito que é egoísta mas que derá aos outros a impressão de que é muito dada, confiante e confiável, mas sem um sentido exacerbado de missão. Sinto que tudo isto já está a acontecer e o principal neste processo foi deixar de negar o que não quero, para deixar de me adaptar cegamente a ele. Depois dessa dolorosa descoberta de que não sou totalmente boa, no sentido cristão? Senti que dentro de limites mais credíveis, mais possíveis posso fazer felicidade em mim e à minha volta onde posso. É necessário sentirmos que conseguimos, essa fé, esse sentimento absolutamente físico de que temos energia para tal.

Se não sentimos que podemos, temos que encontrar outro ponto de interesse onde habita a energia necessária para a sua concretização. A mais que isto não nos devemos obrigar e se tivermos energia jamais será uma obrigação mas a criação de uma vida de aventuras, a criação de um sonho em vifa, uma satisfação contínua. Sim, sim, Não, não.

Por isso, quando sentirmos que não podemos, afastemo-nos do ciclo vicioso de nos acharmos inferiores por não termos determinado objectivo e, em vez disso, porque não usarmos o tempo para investir na busca de onde pára a energia?

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